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Moderninho, esse menino

por the fazz, em 19.10.10

- Eu não entendo porque a gente não pode continuar junto e sair também com outras pessoas. Vai, não me olha assim. Não tem porque. Eu não me importo que você fique com outros caras... Eu... eu não achei mesmo que você se importasse... Você sabe que não funciona, monogomia é um retrocesso. Olha pra mim, o fato de eu sair com outras meninas não quer dizer que você não é especial... Você é uma mulher tão inteligente, nunca imaginei que você fosse encarar isso de uma forma tão... tão ultrapassada...

- Você gosta de História?

- História?

- É. Guerra, miséria, revolução, essas coisas...

- Sim, sim, claro. Acho que sim.

- É engraçado, né. As pessoas quando falam do passado, elas se dividem em dois grupos. O grupo dos que lamentam por aqueles que não sabiam ainda o que era um mp3 e aqueles que gostariam de herdar receitas de família, ao invés de buscar no Google como se ferve leite.

Ele ri, um pouco aliviado da pressão. Ela prossegue.

- Pois é. E a História também é dicotômica, assim. Homossexualidade, por exemplo. Tem muita gente que ainda enxerga um grande tabu no tema. Acham que gay é que nem internet, na geração passada ainda não existia. E no entanto, a História ensina que na antiguidade, simplesmente não havia o conceito de homossexualidade. Há 10 mil anos, nas tribos de Nova Guiné e Fiji, a viadagem era ritualística. Os melanésios acreditavam que o conhecimento sagrado só podia ser transmitido por meio do coito entre duplas do mesmo sexo. Tinha ritual com homens vestidos para representar um espírito dotado de grande alegria, fazendo performances dignas de uma drag queen. Ganesh, o deus hindu, teria vindo da relação de duas mulheres, e por aí vai...

- Mais uma cerveja?

- Claro. Mas continuando. Quando você fala e se exalta com a sua estimada poligamia... eu me lembro da Idade da Pedra Lascada, quando os machos dominantes se casavam com várias mulheres, seguindo o comportamento de animais polígamos, como o bisão e, adivinha só... o veado!

- O que é um bisão?

- Na tribo, os homens tinham esse objetivo, fertilizar o maior número de mulheres possível. Era também uma forma de demonstrar liderança. As melhores caças, as melhores mulheres, a melhor cabana. Tudo pra que o pobre neandertal se sentisse seguro e afagado. Isso faz um tempinho, tipo, três milhões de anos. Mas desculpe, eu acabei te interrompendo... você estava dizendo que eu era ultrapassada.

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publicado às 02:51

Pendências

por the fazz, em 24.08.10

Ir ao banco é algo que ninguém além de Cíntia gosta de fazer. Tem gente que reflete sobre a vida durante um banho quente. Caminhando num parque. Dirigindo a 70 km/h. Cíntia reflete sobre a própria existência enquanto preenche envelopes de depósito bancário. Porque não há nada menos atraente que um ambiente de banco, e na primeira tentativa de fuga, até mesmo a sua vida é mais interessante que aquilo. Seu fluxo de pensamento é interrompido por uma voz familiar:

 

- Cíntia? Porra, quanto tempo!

 

Ela dá o melhor meio sorriso que consegue. Olha alternadamente pro chão e pras pessoas na fila preferencial.

- Pois é, né... tempão...

- Você cortou o cabelo! Ficou muito bom... muito bom... putz, agora lembrei que você deixou seu livro lá em casa, preciso te dev...

- Gema, você pode me fazer um favor? Hum?

- Claro, claro! Manda.

- Tá com celular aí? Liga num número pra mim, é bem rápido.

- Claro, pode falar.

- 99...

- Hum...

- 78...78...34.

- Tá chamando.

Os dois ouvem um ruído abafado de celular tocando muito próximo dali. Ele acha graça, até observá-la abrir a bolsa e perceber o toque cada vez mais cristalino. Inexpressiva, ela busca o celular no interior da própria bolsa. O display luminoso avisa que "GEMA está chamando". Ela pressiona o botão "desligar" e rejeita satisfeita a ligação.

- Obrigada, Gema. Só queria ter certeza que você não sofre de alguma dislexia, você provou que realmente tem habilidade pra fazer isso. Parabéns!

 

Ela vai em direção à saída, levando consigo, conformada e autoindulgente, um gordo maço de envelopes para depósito.

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publicado às 04:06

Ele bate à porta. Ela bate a porta.

por the fazz, em 17.06.10

Ele bate à porta.

- Leila! Que bom, você não mudou! Eu pen...
- Amigo ou namorado?
- Ahn?
- Amigo ou namorado, Carlão?
- Leila, eu...
- Eu não vou perder tempo nessa conversa...
- Essas são mesmo as únicas alternativas que...
- Amigo ou namorado, Carlão, eu não tenho a vida inteira e eu não gosto desse corredor, amigo ou...
- Eu tava com saudade, queria saber...
- AMIGO OU NAMORADO, DESEMBUCHA!
- AMIGO. Amigo, Leila.

Eles suspiram.

- Viu como a gente se poupou dessa vez?

Ela bate a porta.
Ele fica sem reação, do lado de fora. Ela resolve bater um bolo, do lado de dentro.

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publicado às 22:04

Declarações definitivas em prosa, frente e verso

por the fazz, em 05.03.10

Para todas as mulheres que partiram o meu coração:

 

Taís: Você sempre me tratou como um step, uma espécie de entre safras dos seus verdadeiros relacionamentos. Eu sempre estive disponível pra suprir suas "querências" (porque, convenhamos, carência você nunca teve) e o que senti nunca fez muito sentido pra você. As pessoas dizem que a gente deve amadurecer, superar e aprender com nossas dores, mas eu, honestamente, vou me sentir muito melhor simplesmente desejando que você se foda. Com um pau minúsculo, de preferência.

 

Natália: Admitir que um dia fui apaixonado por você é bem semelhante (em termos enfáticos, hiperbólicos e científicos) a admitir que sofri uma lobotomia. Porque só uma paixão pode fazer com que um homem ignore a existência de falhas de caráter como as suas. E olha que eu fui muito nobre em reduzir "vadiagem" a "falha de caráter".

 

Cíntia: Eu nem tenho o que dizer a você. Vi seu novo namorado e quando percebi que ele pesa 60 kg mais que eu, achei que você já está sendo castigada o suficiente.

 

Mariana: Quando você terminou tudo dizendo que passaria 2 anos em Londres, eu poderia jurar que vê-la dois dias depois bebendo na rua Augusta era alguma espécie de delírio meu. Lembrei da sua despedida. Foi tão comovente que eu só posso ter a certeza de que, ou você merece um prêmio Shell de atuação ou sofre de mitomania. Por via das dúvidas, eu vou espalhar a segunda opção.

 

Para todas as mulheres cujos corações eu parti:

 

Pô, foi mal aí.

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publicado às 02:03

Azaração. Se tem esse nome, boa sorte é que não é.

por the fazz, em 08.01.10

1- Gente, o que é esse sorriso? Ok, lá vamos nós.


2- Ele não tem mau hálito.


3- Sim, eu quero sair daqui.


4- É. Vou ter que explicar o que é indie rock. É melhor eu nem comentar que gosto de downtempo.


5- Ele acha a Europa feia porque só tem "coisa velha".


6- Ele acha que "Viver a Vida" é só o título da novela.


7- Acabou de ver meu "Drummond' e disse que em casa servia como um bom calço.


8- Não, meu bem, eu te garanto que não foi o Chico Buarque quem regravou a Pity. Isso é uma heresia.


9- Não, heresia não tem nada a ver com ereção.


10- Ele acabou de dizer "disintiria".


11- Tá, já chega, eu não sei porque eu ainda tô dando corda pra essa topeir...


12- Oh, não, droga... esse sorriso de novo.

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publicado às 23:47

Salvar documento

por the fazz, em 22.09.09

Achei que devia avisar que eu gosto mesmo de você. Não com romantismo e reais expectativas de que seja um sentimento mútuo. Apenas pra constar. Que nos arquivos da sua memória, haja um anexo na minha ficha que declare, alerte, informe que trata-se de uma pessoa potencialmente atraída por você. Uma informação que ative um alerta cognitivo de "watch out", que seja emitido sempre que você tiver as idéias que geralmente tem. Como o de explicar qual lado do meu cérebro está ativado quando eu ouço Nina Simone. Explicar a etimologia da palavra "suspiro". Fazer um interurbano pra cantar a versão forró traduzida de "Nothing Compares" da Sinead O'Connor. Escrever e-mails com o emprego correto do ponto e vírgula. As suas tentativas de fazer meu cabelo ficar bonito e não se importar que eu diga que isso é muito bicha da sua parte. De me abraçar por mais de 8 segundos e saber exatamente qual perfume eu tô usando. De repetir o fim das minhas frases imitando o Barbosa, só pra me fazer rir. De não se importar que eu sempre durma na metade dos filmes que você escolhe e ainda me premiar com um cafuné. Entenda, é importante que você registre isso, porque é por essas e outras pequenas bobagens que eu acabo quase acreditando que você sente o mesmo. Seu cretino.

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publicado às 22:23

...

por the fazz, em 14.09.09

Terminal Bandeira, a um passo de entrar no ônibus, um rapaz atrevido decide furar a desprezivelmente minúscula fila de embarque, bem na minha frente.

 

- Escuta aqui, moço. Você não acha que é folgado demais não? Você percebeu que só havia 3 pessoas atrás de mim? Custava ser um pouco menos grosso e aguardar o resto da fila entrar? (Dou finalmente uma boa olhada no rapaz). Tá pensando o quê? Só porque você tem esse rostinho bonito pode falhar tanto na educação? Hein? O ônibus nem tá cheio, você ia sentar de qualquer jeito, não precisava nem furar a fila nem ficar me dando esse sorriso meio... encantador... Quer fazer um favor? Aprenda a ter modos e vê se me dá logo a merda do seu telefone.

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publicado às 15:35

Os sinais

por the fazz, em 03.07.09

- Você acabou de mexer no cabelo de novo.


- E?


- Você tá muito a fim de mim.


- Ah, que bonitinha, colocando em prática toda a sabedoria das revistas adolescentes.


- Linguagem do corpo é fundamental, os sinais sobre as chances de acasalamento nunca mentem.


- Mas eu nem preciso mexer no cabelo, tem uma festa inteira lá fora e eu preferi ficar aqui conversando com você. E depois, tá pensando o que? Eu também li o seu corpo.


- E o que ele diz?


- Bem, você deve saber que o corpo em repouso indica interesse no sexo oposto. Encostar-se à uma parede durante uma conversa significa "tenho interesse no que você tem a dizer". Ficar sentada relaxadamente numa poltrona, na mesma situação, seria "não quero sair daqui tão cedo".


- E do que você está rindo, hein?


- É que, seguindo a linha de raciocínio, a posição que você está agora só pode significar "estou ovulando".

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publicado às 02:59

OST

por the fazz, em 16.08.08

Eu tinha meu próximo encontro inteiramente planejado. Eu espalharia alguns livros do Bukowski e do Fante no sofá, e em cima da mesa, a filmografia do Wes Anderson. De forma a ambientar um despojamento, não uma bagunça generalizada. E se ele reconhecesse que as coisas estavam dispostas para impressioná-lo de alguma forma, ao menos que ele lembrasse que isso é uma referência woody-alleniana. Ia pegar super bem se ele lembrasse disso.


Eu o deixaria à vontade pra tomar um banho caso ele quisesse. Arranjaria uma toalha azul. Porque azul é de menino. Enquanto ele se divertisse com o coquetel de sabonetes líquidos que eu pré-selecionara para aquela noite, eu escolheria a trilha sonora do nosso “durante”. Música para sexo de primeiro encontro sempre é um assunto delicado. Certa vez um rapaz colocou Sade pra mim. Nada contra Sade, mas como aquilo foi cafa! Certa vez, meu shuffle me traiu e desempenhou um “Fantômas” no meio do nosso desempenho. Mike Patton é o homem mais sexy do mundo, mas dividindo os vocais com Cat Power ou Jenniffer Charles, não com satã.


E é por isso que trilha para sexo é uma arte ainda desvalorizada. Pode catalizar ou arruinar definitivamente o clima. Escolher um tema romântico de cara é pretensioso e canastrão. Deixar à mercê do shuffle do seu iTunes pode ser como abrir a caixa de Pandora. Botar um jazz, apesar de nunca ser errado, pode intimidar demais. Falta a sensação de estar à vontade, a liberdade pra falar uma besteira sem culpa. Afinal, imagina a pressão, fazer sexo com o intelectual apreciador de um gênero musical elegantérrimo quando você, vez ou outra, adora falar de cocô.


E é por isso que eu fiz uma playlist só com canções do Richard Cheese. É um perigoso cruzamento de um jazz refinado com o Tiririca, eu sei. Mas imagina só, que divertido. É a Britney Spears na voz de um fanfarrão, com contrabaixo acústico e metais precisos. É a forma palatável de ouvir a Fergie ou o inusitado Michael Jackson com coro infantil. E ele pode achar que você não é ousada na cama, e você, que ele transpira de uma forma não humana, e vocês descobrem que só há uma camisinha não-lubrificada. Mas quando Richard Cheese se atreve a fazer um mambo de Sunday Bloody Sunday, há essa coisa que nunca pode dar errado. Uma longa e inesperada risada compartilhada, mais instintiva e verdadeira que todos os rituais de reprodução. E com o poder necessário para preencher silêncios constrangedores e roubar a cena no caso de experiências desastrosas.

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publicado às 05:48

...

por the fazz, em 10.08.08

- Pode deixar que eu te levo em casa. Pegou tudo? Não esqueceu de nada mesmo?

- Não, acho que não.

- Bem, eu sinceramente espero que sim.

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publicado às 21:40


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