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Essa noite sonhei com você
no meu sonho, você casava
com a Mariana Ximenez
que golpe miserável
que golpe lazarento
você, não contente em casar,
na minha cara,
ainda casava com alguém
que eu tanto detesto
detesto tanto quanto
se podem detestar pessoas
que você nunca conheceu de fato
Acordei
e não houve alívio
porque por mais que eu queira
e saiba que é saudável
você bem longe de mim
você um dia vai casar
e qualquer uma delas
qualquer uma que seja
será para mim
uma Mariana Ximenez.
Existe muita maldade no mundo. Muita mesmo. Mas nada se compara à crueldade das pessoas que criam zípers nas costas de uma blusa. Desses que nunca se pode fechar sem a ajuda de uma outra pessoa. A gente aprende a apreciar as vantagens de ir ao cinema sozinha (como sempre achar um bom lugar pra uma pessoa, mesmo quando o filme já está pra começar). E aprende a sempre ter um amigo gay que nos divirta em programas em que geralmente só vão casais. Mas não se pode escapar da imensurável agonia de não conseguir fechar um zíper. É tão fácil disfarçar nas outras situações... mas na solidão do seu quarto, enfrentando uma blusa malignamente concebida, fica ainda mais claro que falta uma metade de você.
Foi inevitável. Antes que ela pudesse enviar algum sinal pro seu organismo impedir aquilo, já estava feito. E ela chorou às bicas, ali mesmo no banco cinza do metrô. O senhor tentou ser indulgente, mas aquilo já estava fora dos limites. As lágrimas da moça se multiplicavam em uma progressão geométrica. Ele tinha que se manifestar. Olha, dona, a senhora me desculpe, mas assim não dá. Num tem cabimento uma moça como a senhora se acabando de chorar assim, aqui na frente de todo mundo. Ainda mais no banco reservado. Se essa senhora aí do lado fosse cardíaca? A senhora precisa pensar nas conseqüências de abrir o berreiro desse jeito. Imagine, no transporte público! É muito inconveniente seguir viagem com uma mulher desmanchando no meio do povo, na hora do rush. A gente fica sem saber o que fazer, a senhora aí toda vermelha, enfezada, descontrolada... todo mundo aqui precisa chegar no serviço e não há o que fazer por uma pobre coitada que tá chorando no metrô. Vamo, minha senhora, engole esse choro, tenha decência. Eis que a pobre moça engole seco um soluço e olha sem curiosidade para o piso do vagão. O senhor acompanha o olhar da moça e flagra 4 lágrimas junto aos seus sapatos de boneca. Fracamente! diz, esbaforido. A senhora ouviu o que eu disse? Pensa que eu não vi esses 4 pingos aí? É a estação Sé e 37 pessoas se esmagam no vagão abafado, girando, trôpegas em direção da moça que ainda tem 3 estações de jornada. Cheia de auto-piedade, a moça prende a respiração para se preservar do fedor do coquetel de aromas: cachaça, suor e mau hálito. A senhora ao lado perde as contas do rosário com a parada abrupta na estação Brás e passa a vigiar. Ai dessa moça, se perder o equilíbrio emocional. Encostado à uma das portas, um jovem contorce-se em busca de um cortador de unhas no fundo de um dos bolsos. Para espanto dos passageiros, num perímetro de 30 x 30 cm, o rapaz começa um téc téc agonizante, desafiando toda a convenção de higiene e bons costumes. Talvez, de sanidade. Um projétil de unha atinge a pobre moça. Ela olha em volta com uma expressão desesperadora, esperando aprovação. O senhor olha piedoso: tá, moça, agora pode.
Às vezes tudo o que você precisa é de uma noite muito mal dormida.
- Oi, Cammy! Por que você não apareceu no aniversário da Duda?
- Pois é, foi mal... Fiquei presa no estúdio até 22h, perdi minha carona... Mas como foi?
- Foi ótimo! Quando eu vi o Cacau por lá, achei que você também ia aparecer...
- O Cacau? Nossa, de onde você conhece o Cacau?
- Bem... a gente... estudou junto no colegial.
- É mesmo? Nossa, que mundo pequeno!
- Pois é.
- Menina, então conhecendo ele, você deve imaginar como eu tô nas nuvens...
- Nuvens?
- Ele é incrível. Ninguém nunca me fez sentir assim. As nossas conversas duram noites inteiras...
- Sei...
- E o sexo... Nossa, o sexo é surreal. O cara é insaciável. Ele me pega de um jeito...
- Cammy...
- No começo eu achava ele tão tímido, tão ensimesmado. Nunca imaginaria que dali sairia um ninfomaníaco!
- Cammy, deixa eu...
- E quando ele me joga naquele sofá... Aaaah, aquele sofá...
- Olha, Cammy...
- Você já deve ter visto aquele sofá. Aquilo tem história... Teve um dia que ele me arrastou assim...
- CAMMY! (Interrompe bruscamente) Se você puder me ouvir um minuto, eu só queria avisar que quando eu disse que estudei com o Cacau no colegial, eu não menti. Eu SÓ editei. Posso recolher meu coração agora?
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