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Ir ao banco é algo que ninguém além de Cíntia gosta de fazer. Tem gente que reflete sobre a vida durante um banho quente. Caminhando num parque. Dirigindo a 70 km/h. Cíntia reflete sobre a própria existência enquanto preenche envelopes de depósito bancário. Porque não há nada menos atraente que um ambiente de banco, e na primeira tentativa de fuga, até mesmo a sua vida é mais interessante que aquilo. Seu fluxo de pensamento é interrompido por uma voz familiar:
- Cíntia? Porra, quanto tempo!
Ela dá o melhor meio sorriso que consegue. Olha alternadamente pro chão e pras pessoas na fila preferencial.
- Pois é, né... tempão...
- Você cortou o cabelo! Ficou muito bom... muito bom... putz, agora lembrei que você deixou seu livro lá em casa, preciso te dev...
- Gema, você pode me fazer um favor? Hum?
- Claro, claro! Manda.
- Tá com celular aí? Liga num número pra mim, é bem rápido.
- Claro, pode falar.
- 99...
- Hum...
- 78...78...34.
- Tá chamando.
Os dois ouvem um ruído abafado de celular tocando muito próximo dali. Ele acha graça, até observá-la abrir a bolsa e perceber o toque cada vez mais cristalino. Inexpressiva, ela busca o celular no interior da própria bolsa. O display luminoso avisa que "GEMA está chamando". Ela pressiona o botão "desligar" e rejeita satisfeita a ligação.
- Obrigada, Gema. Só queria ter certeza que você não sofre de alguma dislexia, você provou que realmente tem habilidade pra fazer isso. Parabéns!
Ela vai em direção à saída, levando consigo, conformada e autoindulgente, um gordo maço de envelopes para depósito.
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