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Ela resolveu enfiar o dedo na ferida e decidiu ir sozinha ao cinema no dia dos namorados. Escolheu um filme que tem sido exibido desde 2007, sobre pessoas solitárias com problemas de relacionamento, naturalmente.
É a primeira sessão da tarde e, para seu alívio, ainda há poucos casais no cinema. Acomodou-se desconfortavalmente, deslizando o próprio corpo na poltrona, de forma que não fosse possível ser enxergada pelos casais da sala. E então, a uma poltrona de distância, o improvável. Usando os mesmos métodos de distanciamento do campo de visão alheio, estava um rapaz. Ele segurava com dificuldade uma pipoca tamanho combo especial de dia dos namorados. Era um desafio comer aquilo sozinho. A garota do caixa também tentara (com aquele entusiasmo monofônico) persuadí-la a levar a pipoca combo especial do dia dos namorados por um preço reduzido. E também tentara convencê-la a levar o tamanho grande do refrigerante diet. Ela sabia que a pipoca tamanho combo especial de dia dos namorados era o maior atestado de sua solidão. E que era necessário estar muito deprimido pra pedir um refrigerante grande para se beber sozinho, mesmo que fosse diet.
Observando o rapaz de rabo de olho, ela imaginou que já devia ter suspeitado que ir sozinha ao cinema no dia dos namorados era a melhor forma de encontrar alguém tão solitário quanto ela. Geralmente, buscar alguém por outros meios é como tentar achar uma agulha no palheiro. Mas nesse caso, ele era uma vela acesa no escuro. Uma bela vela, digna de admiração.
E aconteceu, que ali no meio dos trailers e dos beijos incovenientemente sonoros, um outro ruído atraiu a sua atenção: o rapaz se engasgara com uma pipoca e tossia vigorosamente. Foi o necessário pra que ela eliminasse o assento de distância e oferecesse um gole do seu refrigerante pequeno diet. E aquela pipoca tamanho combo especial de dia dos namorados finalmente cumpriu sua missão de servir dois, e não um só.
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