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Ele nasceu durante meu hiato de 10 anos no Juazeiro do Norte. Esse é o nosso primeiro encontro. Agora ele já tem 8 anos e está me observando com um olhar curioso. Mas é família, e devo acrescentar, família nordestina. Isso quer dizer que a gente já se gosta só pelo cheiro. Aos poucos, trocando as primeiras palavras, começo a compreender que o enigma nos seus olhinhos está longe de envolver somente as curiosidades inerentes sobre a prima da cidade grande (que era somente um nome até então). É uma investigação séria sobre algo que só uma incógnita genuinamente infantil poderia suscitar.
- Ei... quantos anos tu tem?
- Vinte e oito.
- EITA! - ele lança impiedoso. Graças à grande distância do período da minha TPM, eu encaro com graça a inevitável franqueza de uma criança.
Mas o ponto de interrogação ainda não se apaga do seu rostinho alvo. Com uma expressão ainda mais confusa, ele investe uma nova pergunta:
- Tu é jovem?
Aí está. Olho ao meu redor e compreendo defintivamente que é mesmo difícil me catalogar. Eu não sou como os outros primos pequenos, e também não pareço sua mãe. Eu sou muito grande pra ser uma criança e muito solteira pra ser gente grande.
- Jovem? Acho que sim. Espero que sim.
Ele abriu um sorrisão, ainda cheio de dentes de leite. E eu acompanhei como num bocejo. Resta ainda uma última dúvida. Ele tá pronto pra encerrá-la:
- Qué dizê que tu pode brincar com a gente?
- Sim. Claro que posso.
- Então bora brincar de algo que criança e jovem pode brincar.
E aí, colega, entenda que se você aceitou o desafio de ser jovem, você não tem a obrigação que teria uma criança de gastar toda a sua energia tentando alcançar a velocidade da luz. Mas espera-se um pouco de esforço da sua parte. Pelo menos, um pouco mais do que investiria alguém que faz parte da tag "gente grande".
* Trecho da música "Do you remember Laura", da lindíssima Lulina.
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