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- Ei, moço, você pode me arranjar um cigarro?
- Claro, claro.
Ele se apressa em acendê-lo, dando especial atenção à marca de batom marcando o filtro.
- Obrigada.
Alguns instantes de silêncio e ensaios mentais. Também uma troca de olhares mentirosa. Daquelas que disfarçam mal o alvo de observação.
- Você sabia que fumantes têm menos probabilidade de desenvolver Parkinson?
- É sério? - ela sorri. - E qual o benefício da minha vodka?
- O primeiro deles é que eu devo aparentar 30% mais bonito depois dessa dose. Além disso, ela reduz suas chances de doenças cardíacas e vasculares.
- Impressionante! Você é médico?
- Magina. Sou dramaturgo. E eu tenho muito tempo livre pra inventar abordagens que não sejam "você vem sempre aqui?".
- Nesse caso, sou uma mulher de sorte. Que outras abordagens você tem disponíveis?
- Você tá pensando em usar meu repertório numa próxima oportunidade?
- Quem sabe.
- Bem, você pode comentar "belo dia pra se jogar golfe, não?". Mas use isso durante uma tarde ensolarada, ok?
- Ok, isso foi bem ruim.
- E quem disse que eu estou disposto a ensinar as boas pra você?
Eles riem. Ele pára de rir antes dela e a observa.
- Taí. Sua melhor abordagem.
- Como assim?
- Esse sorriso. Basta ele.
Ele aproveita que ela ficou corada e continua.
- Olha, eu vou te confessar uma coisa.
- Conta.
- Eu já tinha notado você lá dentro. Vim tentar pensar em algo inteligente enquanto fumava um cigarro, que já tava na metade, e eu ainda só tinha imaginado coisas estúpidas pra dizer. Cada vez que eu achava que tinha a frase perfeita pra começar uma conversa, eu olhava você de longe e tinha a certeza de que ainda não era bom o suficiente. Tava me sentindo derrotado, até você aparecer e pedir um cigarro.
- Posso confessar uma coisa também?
- Claro.
- Eu não fumo.
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