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Ele tenta abrir o vinho, com certa dificuldade. Fica enrubescido, tenta se explicar, pedir desculpas pelos utensílios da sua cozinha que não colaboram e, aparentemente, tentam arruinar seu encontro.
- É... desculpe, eu sempre passo vergonha com esse saca rolhas... ele... não perfura a rolha direito, tá vendo? Eu já estraguei outros vinhos antes, a rolha desmancha, precisa pressionar primeiro assim antes de começar a rosquear... tem um certo jeitinho, espero que dê certo... e... é.... desculpe...
- Eu acho que não tem graça nenhuma uma casa que funciona... onde tudo funciona...
Ele interrompe o pequeno truque e começa a ouvi-la, com curiosidade.
- ... É, cada casa tem um truquezinho. Um macete pra abrir a porta, um jeitinho de fazer a luz do corredor acender... é como se fosse um pet que só faz graça pro dono e pra mais ninguém.
- Bem, obrigado por usar um pouco de poesia pra impedir que eu me sinta um desleixado...
- Não, não é pra se envergonhar. É só mais uma que a sua cozinha apronta pra transformar você num herói de uma pequena conquista, como abrir uma garrafa de vinho.
Ele a olha com demora. E como não se decide se revela o que está pensando ou suspira, acaba por fazer as duas coisas, concomitantemente.
- Eu gosto de você.
Daí, acontece algo muito familiar à algumas pessoas. Ela não quer cometer a gafe de ter ouvido algo que não foi pronunciado. Tenta buscar na memória frases com semelhança fonética, que talvez não sejam tão boas quanto o que ela acha que acabou de ouvir. Mas decide arriscar.
- Você gosta de mim?
- Gosto. Muito.
- Mas... você gosta mesmo ou... só está... talvez um pouco sugestionado... pelo momento, pelo vinho, pela música... porque essas coisas acontecem, eu entendo... tipo, você sentiu isso agorinha e bateu uma vontade de dizer algo que encaixasse com a situação, é isso?
- Qual era a primeira opção mesmo?
- Se você gosta mesmo de mim.
- É, vou continuar com essa.
(Livremente inspirado no saca rolhas de Rodrigo de Março)
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