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- Ou, ao invés da gente se separar aqui, você podia ir lá pra casa.
- Pra sua casa?
- É. A gente podia ir pra lá, assistir o canal de leilão de gado, comer pipoca, tomar vinho, aprender código Morse...
- Em que situação seria útil saber código Morse? - Ri.
- No caso de estarmos no cinema e eu quiser comentar com você que é uma péssima idéia fazer um playback da Penélope Cruz cantando, sem atrapalhar os outros na sala. Toques longos e curtos na sua mão que não vão ser seguidos de um sonoro "shhhhh!".
- Tá, eu gosto da idéia. Gosto de você também.
- Sabe que inventaram uma convenção chamada "namoro" pra oficializar esse sentimento mútuo?
- Você acha que a gente devia tentar? Embora tenha virado modinha?
- Depois que a gente entrou na modinha sem graça de 3 refeições diárias e exercícios físicos regulares, acho que a gente não tem nada a perder.
- Então fecha o olho. A gente começa a namorar em 5, 4, 3, 2...
Querida Odete;
Gostaria de dizer que agora sou a nova proprietária do exemplar de "O Pequeno Príncipe" que um dia você presenteou sua "altamente" estimada amiga Alta. Você sabe, sob alguma pressão de algumas pessoas queridas, eu finalmente adquiri o livro num desses sebos da cidade. Confesso que me senti um pouco constrangida de ler esse clássico agora pela primeira vez, aos 28 anos. Hoje é um tanto mais difícil, afinal, tornei-me alvo de um julgamento fácil: o livro carrega o residual de toda Miss, e além disso, como costumo ler no ônibus, creio o quanto inspira piadas a imagem de um adulto sentado num banco alto, lendo livros com figuras aquareladas. Mas a verdade é que os meus planos de lê-lo confinada no meu quarto foram completamente frustados. A dedicatória do autor logo acendeu uma luzinha dentro da alma, e o livro, antes que eu pudesse ter qualquer controle, enfiou-se na minha bolsa, desejando acompanhar-me, desejando ser lido, mesmo sob o olhar de desaprovação dos outros passageiros.
A sua dedicatória à amiga "Alta" também merece alguma atenção. Eu não sou fã de trocadilhos e honestamente, não me agradou muito o duplo sentido empregado com o nome "Alta". Mas você me ganhou por um pequeno detalhe. A delicadeza das linhas diagonais a lápis, construídas para apoiar sua mensagem a caneta, retinha e caprichada, exatamente como devem ser escritas dedicatórias em contracapas de livros tão especiais. É por causa das suas tênues linhas traçadas a lápis que quero te pedir perdão por esse livro agora pertencer a mim, e não mais à estimada Alta. Perdoe-a, ou sua família, por ter dado longa vida à esse livro fabuloso, e dê-lhes algum crédito por este livro ter chegado às minhas mãos em tão bom estado. Eu prometo, em compensação, ter mais atenção ao número de pôr-do-sóis assistidos que aos números que indicam peso, idade e o orçamento no fim do mês. Prometo desenhar uma estante onde guardar esse livro com segurança, longe de baobás e espinhos. Uma estante iluminada com luzinhas coloridas. As luzes do natal de 1976.
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