Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]



Um belo homem triste

por the fazz, em 14.01.11

“Lá vem o menino triste” - disse ela, indecisa entre anunciar e suspirar, por fim fazendo as duas coisas ao mesmo tempo. Menino ela sabe que ele não é. Chamar jovens adultos de menino é só um hábito herdado, e portanto, mais velho que o próprio rapaz. O que ela não sabe é que triste ele também não é. Ele tem uma vida agitada, cheia de tudo que um jovem de 32 anos pode ter. Futebol, pegação, sinusite e lista de torrents. Mas triste ele fica, eventualmente; e sempre que acontece, é aquele café que ele gosta de frequentar.

 

Ele chega em passos mansos. Faz o pedido baixinho, quase inaudível. Lê cuidadosamente o cardápio inteirinho pra pedir o café de sempre. Como se antes de pedir o espresso carioca, buscasse nas entrelinhas a solução pras suas dores. Triste de se venerar.

 

O que ele não sabe, por conta de tamanho abatimento, é que diversas vezes ela já serviu o café errado. Não por descuido, muito pelo contrário. Se um dia o esmero em preparar um café para o menino triste fosse igualmente dedicado à coisas mais importantes, ela já teria erradicado comerciais de pasta de dentes ou eleito Tina Fey para presidenta. Sempre que possível, ela troca propositalmente o seu pedido por um Doppio espresso. Certa vez lera que a cafeína é um inibidor da depressão e esse é o seu pequeno gesto pelo menino triste.

 

Homens tristes sempre a comovem. Um ato heróico, filosofa, ser um homem triste. Lágrimas, frustração e chilique soam como obra maligna da progesterona, e no entanto, a despeito disso tudo, ele está ali desfilando mágoas, introspecção e uma linda bunda no café da esquina.

 

A cada visita, ela divaga secretamente sobre as inquietações que podem perturbar um rapaz de 30 e poucos anos. Solidão. Coração partido. Vazio existencial. Calvície. Ela o observa pagar o café e se afastar, carregando com dificuldade o próprio corpo sobre as pernas fatigadas. Sonha com o dia em que ele vai pedir dois cafés e companhia. Em que vai elegê-la como confidente e revelar suas penas. Ele atravessa a rua, ainda lamentando a contratação de Ronaldinho Gaúcho pelo Flamengo. Sente a gastrite queimar e desabafa para si mesmo “café forte da porra!”

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 22:36


5 comentários

De fermonas a 10.02.2011 às 12:05

Sim, soa até um pouco ridículo "menino"

Comentar post



Pesquisar

  Pesquisar no Blog

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.


Arquivo

  1. 2012
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2011
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2010
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2009
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2008
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D