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“Lá vem o menino triste” - disse ela, indecisa entre anunciar e suspirar, por fim fazendo as duas coisas ao mesmo tempo. Menino ela sabe que ele não é. Chamar jovens adultos de menino é só um hábito herdado, e portanto, mais velho que o próprio rapaz. O que ela não sabe é que triste ele também não é. Ele tem uma vida agitada, cheia de tudo que um jovem de 32 anos pode ter. Futebol, pegação, sinusite e lista de torrents. Mas triste ele fica, eventualmente; e sempre que acontece, é aquele café que ele gosta de frequentar.
Ele chega em passos mansos. Faz o pedido baixinho, quase inaudível. Lê cuidadosamente o cardápio inteirinho pra pedir o café de sempre. Como se antes de pedir o espresso carioca, buscasse nas entrelinhas a solução pras suas dores. Triste de se venerar.
O que ele não sabe, por conta de tamanho abatimento, é que diversas vezes ela já serviu o café errado. Não por descuido, muito pelo contrário. Se um dia o esmero em preparar um café para o menino triste fosse igualmente dedicado à coisas mais importantes, ela já teria erradicado comerciais de pasta de dentes ou eleito Tina Fey para presidenta. Sempre que possível, ela troca propositalmente o seu pedido por um Doppio espresso. Certa vez lera que a cafeína é um inibidor da depressão e esse é o seu pequeno gesto pelo menino triste.
Homens tristes sempre a comovem. Um ato heróico, filosofa, ser um homem triste. Lágrimas, frustração e chilique soam como obra maligna da progesterona, e no entanto, a despeito disso tudo, ele está ali desfilando mágoas, introspecção e uma linda bunda no café da esquina.
A cada visita, ela divaga secretamente sobre as inquietações que podem perturbar um rapaz de 30 e poucos anos. Solidão. Coração partido. Vazio existencial. Calvície. Ela o observa pagar o café e se afastar, carregando com dificuldade o próprio corpo sobre as pernas fatigadas. Sonha com o dia em que ele vai pedir dois cafés e companhia. Em que vai elegê-la como confidente e revelar suas penas. Ele atravessa a rua, ainda lamentando a contratação de Ronaldinho Gaúcho pelo Flamengo. Sente a gastrite queimar e desabafa para si mesmo “café forte da porra!”
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